Depressão: Como aceitar que precisa de ajuda psicológica?

A depressão é um transtorno de humor que quando não recebe a devida atenção por parte da pessoa que sofre, certamente irá afetar negativamente os seus pensamentos e comportamentos. Não existem fórmulas mágicas, nem tão pouco um tratamento que tenha 100% de eficácia com todas as pessoas. Isto acontece porque a depressão necessita do envolvimento da pessoa na sua recuperação, e como tal, a participação da pessoa joga um papel fundamental na sua recuperação. É importante que a pessoa que sofre aprenda a lidar de forma funcional com os seus pensamentos, comportamentos e crenças, que usualmente podem apresentar-se alterados devido às mudanças decorrentes do problema relacionado com a depressão. Claro que existem formas, tratamentos, terapias e mesmo alguns medicamentos que quando aplicados devidamente e inseridos num programa de recuperação surtem um efeito positivo na superação da depressão. No entanto, por vezes, algumas das pessoas que sentem a sua energia diminuída, a irritabilidade aumentada, o prazer geral afetado negativamente, desmotivação para as tarefas habituais, excesso de pensamentos negativos, baixa autoestima, tristeza profunda, cometem o terrível erro de não procurar ajuda psicológica. Talvez por desconhecimento, ou por más experiências, ou por descrença nos profissionais, o que é certo é que resistem à procura de uma solução, arrastando a sua situação até a uma zona alarmante para a sua vida. Surgindo na grande maioria dos casos, a pergunta derradeira: Porque é que não consigo ser feliz? Se você ou algum familiar seu se encontra numa situação idêntica à descrita, pondere a situação, dê-lhe a devida atenção e procure informação no sentido de esclarecer-se melhor. Aprofundei este assunto no artigo: Como dar apoio a alguém com depressão? A pessoa que possa estar a enfrentar um momento depressivo, tristeza profunda ou se sinta desmotivada e desadequada para grande parte das suas tarefas, certamente irá passar por algumas fases inerentes ao seu momento menos bom, ou até mesmo terrível. Mesmo que não se encontre com depressão clínica, pode usufruir de perceber e saber detetar a fase em que se encontra ou que pode vir a passar, no sentido de não piorar o seu estado, ou na melhor das hipóteses não cair em depressão severa. Ou, se já se encontra (desde que devidamente diagnosticada) com depressão (leve, moderada ou severa) ficar informado da situação problemática em que se encontra e da consequente necessidade de procurar ajuda profissional. E na minha opinião, de preferência ajuda psicológica. Apresento as cinco fases que a pessoa que tem depressão ou que tem simplesmente alguns dos sintomas da depressão acima descritos e sente a sua vida afetada negativamente no seu dia-a dia por um período prolongado (mais do que seis semanas) , deve ficar ciente no sentido de sensibilizar-se na procura de ajuda. PRIMEIRA FASE Desconhecimento. Estas mudanças físicas estranhas poderão ser depressão? Às vezes, tudo o que uma pessoa precisa é de alguém para destacar o óbvio. Não suponha que uma pessoa pode ligar os pontos entre os sintomas depressivos e a depressão como um transtorno de humor tratável. Usualmente não. A pessoa pode passar a ter insónias, perder peso, ter falta de apetite, perda de prazer nas coisas que gostava de fazer, percebendo que algo de errado se passa, ir ao médico, fazer análises sanguíneas e não existir justificação para a enorme falta de energia (sintoma muito comum e severo presente no diagnóstico de depressão). No entanto, é igualmente importante caso vá ao seu médico, que ele não tenha o ato bem intencionado de lhe prescrever antidepressivos baseando-se apenas na descrição dos seus sintomas, sem que faça o devido diagnóstico, ou de preferência que o encaminhe para um psicólogo ou psiquiatra. Ainda que você possa ter grande parte dos sintomas comuns da depressão, pode não preencher os critérios de diagnóstico para a depressão, e eventualmente estar a sofrer de um outro transtorno psicológico que tem comorbidade com a depressão. Devido a este fato, é aconselhável e premente que consulte um profissional de saúde mental. Para aprofundar o assunto, leia: Compreender a depressão, sintomas, causas e tratamento SEGUNDA FASE Negação. O quê? Eu, deprimido? De jeito nenhum! Às vezes uma pessoa precisa de uma exposição repetida à mesma ideia a partir de várias fontes para que possa refletir sobre esse assunto. Seja consistente e persistente. Conte com a ajuda de familiares e amigos. Por vezes a palavra depressão está associada a fraqueza da pessoa. Como se apenas as pessoas fracas psicologicamente pudessem desenvolver depressão. Um perfeito equívoco. A depressão é susceptível de manifestar-se em qualquer pessoa. Não é praga nenhuma, não é desprestígio nenhum, nem tem de ser um estigma. Usualmente, numa primeira fase a pessoa não quer admitir que pode estar a ficar desanimada com a sua vida, que o seu humor está terrivelmente alterado. A própria negação é um potenciador da depressão. Numa fase leve, em que a pessoa começa a ter pensamentos deprimidos, a depressão pode não ser mais do que apenas um conjunto alargado de erros de raciocínio que a pessoa começou a cometer. Se a pessoa não entrar em negação, olhar o seu problema de frente e não se estigmatizar, poderá com relativa facilidade suprimir esses pensamentos e rapidamente estabilizar o seu humor, sem avançar para cenários piores. Para aprofundar o assunto leia: Depressão, será um erro de raciocínio? TERCEIRA FASE Resistência. Ok, eu estou deprimido, mas eu não preciso de medicação, nem de terapia psicológica ou de ajuda profissional para resolver meus problemas. Vou orar, vou meditar, vou comer alimentos orgânicos para me recuperar. Ainda que todas estas componentes possam ajudar como complemento, não podem ser consideradas tratamento ou terapia. Algumas pessoas em determinadas situações também se recuperam de infecções graves, sem o uso de antibióticos. As pessoas levam muito mais tempo para se recuperarem dessas infeções e às vezes corre mal levando a pessoa à morte, devido à ausência dos antibióticos. Porque não usar grande parte dos recursos à disposição? Acredito que por vezes a pessoa que se vê na situação angustiante de lutar contra a depressão, possa sentir-se desesperada, em parte, devido ao processo de tratamento. Por vezes os sistemas nacionais de saúde não estão preparados para trabalharem em coordenação. E, alguns profissionais demasiado tradicionais e de “vistas curtas” agarram-se em demasia aos seus conhecimentos, não abrindo a porta à interdisciplinaridade. Desta forma, a pessoa que sofre pode ter receio de que se for ao psiquiatra tenha de passar longos períodos sobre o efeito de medicação. Ou, noutro caso ponderar a terapia psicológica, criando a ideia que terá de caminhar eternamente para o consultório e ficar dependente do psicólogo. Ambos os cenários na verdade são suscetíveis de acontecerem. Por vezes o maior problema das pessoas que sofrem de depressão, está exatamente no tratamento. Isto acontece, mas é possível ser um paciente “inteligente” da saúde mental. Estabeleça metas razoáveis ​​com um terapeuta/psicólogo ou psiquiatra e definia um prazo para atingir esse objetivo (superar a depressão). Muitas pessoas vão ao psicólogo ou psiquiatra durante anos mantendo exatamente os mesmos problemas. Você faria isso com qualquer outro profissional de saúde? Claro que não. Se teimosamente o seu problema continua a persistir passado largos meses. Se você continua a aumentar a sua lista de medicamentos ou recorrentemente substitui uns medicamentos por outros, obtendo o mesmo resultado, coloque esse tratamento em questão. Se continua a ir às consultas de psicologia, e continua a sentir-se da mesma forma, ou de forma sistemática tem recaídas, questione o profissional, coloque a terapia em questão. Se já passou ou está a passar por um cenário idêntico, tente obter uma segunda opinião ou tente uma abordagem diferente. Não desista de forma alguma. Persista na sua tentativa de recuperação total, ela é possível. O tipo de medicação ou terapia pode não estar a surtir efeito, mas você pode ser proativo e esperançador. FASE QUATRO Consciencialização. Eu sei que preciso exercitar-me, ativar-me, passar a fazer pequenas tarefas, dormir mais, regular os meus pensamentos negativos, mas eu simplesmente não me apetece. É importante relembrar à pessoa que sofre que somos todos humanos. Ficar abatido, não ter vontade e resignarmo-nos é natural acontecer. No entanto, a pessoa que sofre se pretende melhorar a sua condição, terá de fazer a pergunta derradeira: O que eu me proponho a fazer, mesmo não me apetecendo? É importante que a pessoa responda todos os dias a esta questão, durante o processo de recuperação. E faça o que está previamente planeado, mesmo não tendo vontade para isso. A pessoa tem de tomar consciência que não poderá movimentar-se pela sua vontade, mas sim por aquilo que sabe que tem de fazer para ajudar-se a si mesmo. Aprofundei este assunto, no artigo: Olhe a depressão como ela é, paralisia da vontade FASE CINCO Aceitação. Eu acho que a depressão é algo com que eu tenho de aprender a lidar. A depressão estabelece uma relação com os acontecimentos de vida. Numa primeira fase os estados deprimidos são uma reação natural à perda ou percepção de perda. Aceitar esta ideia e esta reação pode ser esperançador. O fato de aceitar-se que se está a atravessar um momento difícil, que se enfrenta um período de vida em que grande parte das coisas significativas podem estar a ir numa direção oposta à desejada, pode capacitar a pessoa para sentir-se capaz de fazer algo para superar esse período angustiante. Se a pessoa conseguir perceber que os sintomas físicos desagradáveis que sente, são uma consequência da sua avaliação do momento em que se encontra. E, como tal não pode deixar de não sentir-se abatida. No entanto, no exato momento que a pessoa percebe e aceita isso como um fato, fica numa posição vantajosa para ajudar-se a si mesmo. Sem estigmas, sem ataques ao seu ego, sem menosprezar-se ou vitimizar-se. A pessoa entende que tem um problema, mas que não é o problema. Que apesar de estar deprimida, pelo seu querer pode fazer algumas coisas para voltar a sentir-se bem. É claro que com o devido enquadramento e ajuda profissional. Aceite o seu estado, mas não fique resignado a ele. Aceita o seu momento, mas faça algo para sair dele. Se algumas coisas não resultarem, continue firme, faça outras que possam surtir efeito. Informamos, que aqui mesmo no Blog da Escola Psicologia pode ter acesso a terapia psicológica com base na abordagem cognitivo-comportamental. A terapia cognitivo-comportamental é na atualidade a terapia não medicamentosa mais eficaz no tratamento da depressão. Para mais informações consulte: Consultas de Psicologia Online Fonte : http://www.escolapsicologia.com

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